segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Tootsie (1982)

[Postado por Gian]
Em "Quanto Mais Quente Melhor", a comédia de Billy Wilder considerada a melhor de todos os tempos, dois músicos desesperados (Jack Lemmon e Tony Curtis) se transvestem de mulher e se infiltram em uma banda feminina para fugir de mafiosos. A obra de Wilder merece a primeira posição de melhor comédia que recebeu pela AFI, o filme possui um timing perfeito, com atuações hilárias dos protagonistas e um ótimo enredo. Quase vinte e três anos depois outra comédia com uma vertente bastante semelhante ganharia o segundo lugar na lista, um filme que colocou o diretor Sidney Pollack no hall dos cineastas titulares da época e deu a Dustin Hoffman um dos melhores papéis de sua carreira.

"Tootsie" conta a história de Michael Dorsey (Hoffman), um ator desesperado que não consegue emprego devido ao seu perfeccionismo e excesso de questionamento quanto aos papéis que para ele são dados. Ele mora com seu simpático amigo e escritor de peças teatrais Jeff Slater (Bill Murray) e tem uma amiga, Sandy Lester (Teri Garr), também atriz que sofre por causa de sua insegurança em demasia e confusão de sentimentos. Jeff possui uma promissora peça de teatro no papel, mas não pode ser realizada porque não possui grana para tal empreendimento. Quando o agente de Michael, George Fields (interpretado pelo próprio Pollack) se recusa a ajudá-lo em busca de novos papéis, o ator tem uma idéia luminosa: se transvestir de mulher para estrelar num programa de TV, uma espécie de telenovela médica. Michael agora é Dorothy Michaels, uma mulher de meia-idade que se veste de um modo puritano, mas com idéias revolucionárias para o programa.

Antes da chegada de Dorothy, a telenovela tinha aspectos machistas, mostrando médicos assediando enfermeiras que aceitavam tudo passivamente, principalmente a enfermeira interpretada por Julie Nichols (Jessica Lange). A situação de Julie na vida real não é muito diferente: o diretor da telenovela, Ron Carlisle (Dabney Coleman), é um mulherengo que está envolvido com a atriz, mas não quer nada sério, já Julie, que é mãe solteira, está confusa em relação a Ron, mesmo sabendo seu jeito de ser, ela projeta no diretor a chance de uma vida mais segura e menos solitária. Como era de se esperar, o envolvimento de Srta. Michaels na telenovela e na vida de Julie vai criar uma onda de confusões tremendas, todas repletas de situações inspiradoras e engraçadíssimas.

Enquanto "Quanto Mais Quente Melhor" foi filmado em preto-e-branco (para frustração de Marilyn Monroe) para garantir maior convencimento sobre o aspecto feminino de Lemmon e Curtis – e cenas em cores dos bastidores comprovam que os atores se pareceriam muito mais com palhaços do que com mulheres se o filme não tivesse sido filmado em P&B - Dustin Hoffman convence o espectador com sua Dorothy a cores. Hoffman cria uma perfeita dualidade em sua personagem, misturando aspectos conservadores (como suas roupas, cabelo e trejeitos) com feministas numa atuação engraçadíssima, e é esse feminismo que garantirá sucesso a grande farsa. Em uma época onde o feminismo era repensado dentro do âmbito dos papéis sociais do gênero, Dorothy vira uma representante da mulher americana, suas atitudes determinadas contra o abuso masculino (todas improvisadas, deixando o diretor e os produtores à beira da loucura) servem como inspiração para as mulheres no país afora. Essa transformação para um ícone nacional é feita de uma forma bastante divertida, mostrando Dorothy sendo fotografada para várias capas de revistas encarnando vários papéis, desde uma vaqueira, passando pela pop-art (com direito a posar ao lado de uma sósia de Andy Warhol) até a sua imagem mais conhecida, com um vestido brilhante e vermelho e a bandeira dos EUA ao fundo.

Diferente do sucesso na telenovela, a vida pessoal de Michael fica cada vez mais enrolada. Isso porque ele se apaixona por Julie, que vê em Dorothy uma grande amiga e confidente, e ainda vai ter que lidar com a paixão do pai da atriz por Dorothy, Leslie Nichols (Charles Durning), um homem viúvo e simpático que nem em sonho desconfia da verdadeira identidade de sua amada. Essas situações onde há paixões inusitadas são terrenos-seguro para esse tipo de comédia, se claro, houver um bom entrosamento entre os personagens junto com situações pelo menos aparentemente críveis (como também já vistas na obra de Wilder).

É perceptível a diversão de Hoffman ao interpretar esse papel, tanto que o nome "Tootsie" foi idéia do próprio ator, que era chamado desse jeito por sua mãe quando criança. Enquanto Jack Lemmon se divertia olhando no espelho e se maquiando, Hoffman foi à escola de seu filho vestido de Dorothy para testar a eficácia do disfarce. Jessica Lange levou o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante, e ela está realmente ótima, mostrando toda a insegurança e doçura de Julie. Porém Teri Garr não fica atrás, ela, que também concorreu junto com Lange, faz uma atriz frustrada brilhantemente exagerada, sem ser caricata, gerando assim grande simpatia com o público. A obra ainda conta com as boas participações de Bill Murray e seu sarcasmo natural (ele improvisou todas as suas falas) e Geena Davis.

Com uma direção correta de Sidney Pollack, "Tootsie" se apóia principalmente nas atuações impecáveis e nas situações inteligentes - tão copiadas hoje em dia, que alguns podem vê-lo como um filme cheio de clichês, porém é uma grande comédia, que mescla humor descompromissado com questões mais sérias - como o próprio machismo existente nos programas de TV. Pena que hoje em dia os filmes que exploram homens transvestidos, como "As Branquelas", não sigam o alto padrão da produção de Wilder e de Pollack, ou pelo menos algum padrão aceitável.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Os Sonhadores (The Dreamers) – 2003

1968 - eclodia na França uma rebelião estudantil contra as condições de ensino e por maior participação na vida política. A Universidade de Sobornne era o foco da revolta. Reprimida com violência pela polícia, a manifestação culminou, em 13 de maio, na marcha de 800 mil pessoas em apoio aos estudantes.

É simplesmente fascinante imaginar as centenas de histórias que estavam ocorrendo naquele momento na França. Um momento em que a cultura Pop emergia das mãos de Andy Warhol, a guerra fria assolava o mundo e os “Filhos da Cinemateca Francesa” lançavam a Nouvelle Vague. Em Os Sonhadores, o diretor Bernardo Bertolucci não só retrata esse período histórico para o mundo, como o homenageia, mostrando a história de dois jovens que moravam no epicentro deste vulcão.

Matthew (Michael Pitt) é um jovem americano que vai para França em 68 para estudar o idioma. Cinéfilo, Matthew vai à Cinemateca regularmente, onde assisti a dezenas de filmes. Ok, Devo dar uma parada neste momento para lhes apresentar Henri Langlois. Fundador da cinemateca francesa, era colecionador de filmes e tinha como principal objetivo exibi-los. Muitos diretores dos anos 50 e 60 devem boa parte da sua formação aos filmes que a Cinemateca promoveu. Foi de lá que saíram os “Filhos da Cinemateca” fundadores da Nouvelle Vague (Nova Vaga). Em 68, no entanto, o então ministro da cultura francesa resolveu despedir Langlois da liderança dos destinos da Cinemateca, alegando deficiência de gestão. Em 14 de Fevereiro, a polícia tentou reprimir milhares de pessoas que tentavam chegar ao Palácio Chaillot, sede da cinemateca, onde Langlois contestava as ordens do ministro. Essa é a situação inicial do filme. É nessa, literalmente, Revolução do Cinema que Matthew conhece os irmãos gêmeos Isabelle (Eva Green) e Theo (Louis Garrel).

O jovem fica fascinado com os dois. A química entre os três rola na primeira instancia. A paixão pelo cinema move praticamente todas as suas conversas. Os pais dos gêmeos, estão para fazer uma viagem, e eles convidam Matthew a passar uns dias em sua enorme e antiga casa. Matthew se surpreende ao perceber que a relação dos dois irmão é mais íntima do que imaginava. Os dois dormem todos os dias na mesma cama, nus e abraçados. Jogos de interpretação de cenas tomam conta da primeira parte do filme. Quem não acertava o nome da película em questão, pagava uma “multa”. Em uma delas, Theo se masturba na frente dos dois, e mais pra frente, Matthew tira a virgindade de Isa.

A segunda parte do filme, onde Matthew e Isa estão se relacionando regularmente, Bertolucci explora a relação entre os gêmeos, que se dizem siameses. Chega a ser bizarro, mas curioso o modo como os dois estão unidos e o inicio de um ciúme de Theo por Matthew, que a gente espera terem alguma coisa o filme todo. O ponto forte são de fato, as referencias à outros filmes. No entanto, vemos algo de bastante interessante, o filme foi dirigido bem ao estilo da Nouvelle Vague e as referencias à pop art e a todo o contexto da época nos fazem criar admiração pela película.

É deprimente saber que nos anos 60 existiam jovens motivados a encarar o cinema como uma forma de arte tão profunda quanto a poesia. Discussões sobre filme hoje se resumem a bilheterias e a efeitos visuais. As pequenas partes dos filmes, uma cena, um segundo de uma cena, um olhar, não é mais encarado como uma letra de música pelos cinéfilos de hoje. Ser cinéfilo é amar a um filme tanto quanto um groupie ama uma partezinha de uma música de sua banda. É apreciar o trabalho estético, a edição, tudo. Tudo que motivou àquele roteirista, aquele diretor, aquela pessoa por trás das câmeras a retratar a história.


terça-feira, 10 de novembro de 2009

O Que Terá Acontecido a Baby Jane? (What Ever Happened to Baby Jane?) - 1962

[Postado por Gian]
Hollywood, em sua Era Dourada, possuía um lado no mínimo interessante: a mesma Hollywood que jogava grandes artistas para escanteio em prol de novos talentos e de novas exigências, resgatava alguns e criava verdadeiras obras-primas. Provavelmente o exemplo mor do que acabei de afirmar se encontra no maior filme de Billy Wilder, "Crepúsculo dos Deuses", onde temos uma grande atriz do cinema mudo, Gloria Swanson, que interpreta uma personagem também atriz, da fase muda e que é, como sua intérprete, jogada para escanteio, a inesquecível aloprada Norma Desmond. O mesmo acontece com a obra aqui em questão, "O Que Terá Acontecido a Baby Jane?", que traz duas grandes atrizes, Bette Davis e Joan Crawford que, na época que o filme foi realizado, já não possuíam a glória de outrora.

O filme conta a história de duas irmãs, Baby Jane (Davis) e Blanche Hudson (Crawford) que vivem em uma mansão em Hollywood. Baby Jane foi uma grande estrela mirim e mais tarde tentou carreira no cinema, mas ao contrário do seu sucesso quando criança como cantora e dançarina, não conseguiu emplacar como atriz. Já sua irmã, que não conhecia os louros do sucesso na infância, se tornou uma grande atriz, para a frustração de Jane. Após um trágico acidente, Blanche encerra sua carreira presa numa carreira de rodas aos 'cuidados' da irmã, que envelheceu completamente infeliz, amargurada e psicótica.

A obra de Robert Aldrich é um suspense psicológico de primeira categoria, com tantas características positivas que as pequenas falhas quase não valem a pena ser citadas. Após mostrar, ainda antes dos créditos iniciais, a ascensão de Baby Jane como performista mirim, seu fracasso como atriz contrapondo o sucesso da irmã, e o trágico e misterioso acidente envolvendo as irmãs, somos jogados para dentro da mansão em Hollywood, já no começo dos anos 60 - a época em questão será um fator importante a ser avaliado mais tarde -, onde presenciaremos o desenrolar de uma relação de ódio e rancor.

O primeiro contato que temos com Baby Jane depois dos passar dos anos é chocante, bem diferente da delicada, porém mimada, menina que nos é apresentada no começo da projeção, Baby Jane agora é uma caricatura de si mesma, mantendo as vestes que usava no passado, com direito a babadinhos e laços nos cabelos loiros e secos desgrenhados, o rosto lotado de maquilagem (a brancura excessiva em contraste com o forte lápis preto nos olhos e o batom, juntamente com as marcas do tempo, criam uma imagem quase que icônica), as roupas, quase sempre completamente brancas, conferem a personagem um aspecto fantasmagórico (é fácil lembrar-se de Blanche DuBois, a desequilibrada professora de inglês interpretada divinamente por Vivien Leigh no clássico “Uma Rua Chamada Pecado“), e com trejeitos completamente debochados (essa característica já vinda da própria Bette Davis). É de imediato a compreensão do espectador de estar diante de uma figura ameaçadora, mas ao mesmo tempo digna de pena. Já Blanche, que passa a maior parte do tempo em seu quarto vendo seus filmes constantemente reprisados por um canal de TV, é a imagem da razão e sanidade, ainda que o tempo e os acontecimentos pelo qual passou o tenham deixada com um aspecto visivelmente cansado.

Ambas vivem do passado. Blanche é refém da própria da irmã, todas as suas necessidades básicas precisam ser supridas por Baby Jane, que vê na irmã inválida a oportunidade de se vingar pelo seu fracasso como atriz. Assim sendo, Jane inferniza Blanche das formas mais mesquinhas possíveis, como colocando um rato e um pássaro mortos sob a tampa da bandeja de comida, ou jogando fora todas as cartas dos fãs que chegam para Blanche, seu único vínculo com o passado dourado. Blanche se lembra de seu estrelato através dos filmes, já Jane está completamente ligada a um passado ainda mais remoto, de quando era a estrela do vaudeville, na mansão estão espalhadas quadros e bonecas dessa época, além da patética caracterização já comentada.

Alguns paralelos podem ser feitos entre a obra de Aldrich e a obra-prima de Wilder. A mais evidente de todas é o esquecimento de um grande astro por uma sociedade que a todo o momento pede por mudanças, esse astro passa então a viver em um mundo à parte, quase sem nenhum contato com o exterior. Provavelmente Norma Desmond e Baby Jane Hudson, a primeira em um grau muito maior, desprezam aqueles que um dia as deram oportunidades, apesar da tentativa de ambas de voltar para o show business, Norma através de um fracassado roteirista, e Baby Jane através de um compositor de aspecto bisonho nada promissor. Diferente de Baby Jane, Desmond não vira uma figura cômica, ela mantém a elegância apesar das vestes já estarem um pouco ultrapassadas, entretanto ambas se auto-veneram, a personagem de Wilder espalha por sua mansão fotos da juventude no auge e assiste a seus filmes mudos em seu cinema particular; Jane também tem algumas fotos de sua beleza jovem exótica, mas como sua carreira de atriz não angariou muitos frutos, o que prevalece mesmo são os quadros e as fotos da pequena estrela que fora um dia. Há também, nos dois filmes, um assassinato à sangue frio, que parece ser uma atitude inevitável quando se trata de alguém psicótico que vê sua vida afundando cada vez mais.

Fazendo jus ao gênero em que se enquadra, o filme tem um desenvolvimento lento no primeiro ato, porém à medida que Baby Jane vai se tornando cada vez mais psicótica devido aos acontecimentos que se seguem, como a descoberta que sua irmã pretende vender a casa e depois interná-la, o ritmo se acelera e o espectador se sente cada vez mais envolvido. Sentimos aquele frio na barriga e a inquietação que surgem com cenas aterrorizantes, como as atitudes desesperadas de Blanche por alguma ajuda exterior - do médico da família, da empregada ou da vizinha - que são sempre frustradas pela infeliz aparição da irmã, com cortes de câmeras assustadores voltados para o rosto macabro de Bette Davis. Algumas ‘falhas’ podem ser identificadas quanto à aparente aquiescência de Blanche de se manter como vítima, pelo fato de seu quarto estar bem perto do jardim da vizinha. Sendo assim, quando a situação começa a passar dos limites, Blanche poderia muito bem berrar por socorro, mas se formos pensar por outro lado, além da óbvia fuga da realidade que o filme faz uso para poder se manter, podemos enxergar na personagem de Crawford um sentimento de pena e de carinho em relação à irmã (sentimento esse satisfatoriamente justificado na revelação bombástica ao final da película), ela então prefere deixar a situação como está e torcer pela recuperação da sanidade de Jane.

Bette Davis e Joan Crawford se odiavam na vida real, alguns apontam que Bette Davis era ressentida pelo modo que Joan tinha se tornado uma estrela, Davis teria dito que "Joan Crawford teria dormido com todos os astros da MGM, exceto a Lassie", mas qualquer que fosse as razões, esse rancor só serviu para realçar a carga real do filme. Entretanto é claro que mesmo se as duas fossem amigas do peito, as atuações não poderiam ter sido menos que extraordinárias, afinal, estamos falando de dois gigantes de Hollywood. Joan Crawford consegue transmitir espantosamente o desespero de Blanche ante as situações humilhantes, principalmente através de seu olhar, e Bette Davis vai do cômico ao trágico e da delicadeza a crueldade com uma fluidez e naturalismo impressionantes, as cenas em que canta a triste canção “I’ve Written a Letter to Daddy” despertam no espectador uma mistura de pena com repugnância, e tira-nos um riso culpado quando imita Blanche ao telefone esbugalhando os enormes olhos como uma louca varrida. O elenco coadjuvante também tem seu destaque, principalmente Victor Buono, que interpreta o compositor Edwin Flagg, sua relação com Jane não é completamente clara, às vezes temos a impressão que ele só está interessado mesmo no dinheiro, mas às vezes temos a sensação que há uma atração sexual bizarra e inesperada por parte do músico. O filme também mostra bem a relação nada harmoniosa de Edwin com sua mãe, apesar de pouco tempo na tela.

Lá no começo eu comentei sobre o período em que a história se passa. A Era Dourada de Hollywood já mostrava desgaste no início dos anos 60, perdendo completamente sua força ao final dessa década. Nos anos 70 as produções americanas sofreriam uma reviravolta imensa, com produções mais realistas e se focando em pessoas ordinárias, com o qual o espectador poderia facilmente se identificar. O prelúdio dessa fase tinha surgido com rostos como os de Marlon Brando e James Dean, chamados de 'novos ídolos', apesar de vários atores da mesma época terem continuado a tradição do glamour hollywoodiano, como Elizabeth Taylor e Ava Gardner. No caso de Bette Davis, a atriz não gozava de tanto prestígio por parte dos produtores e diretores já no início dos anos 50, sua carreira fora resgatada em "A Malvada", mas ela não tinha sido sequer a primeira opção para o papel de Margo Channing. Joan Crawford já representava o glamour do passado na década de 50, e no começo da mesma fez uma equivocada declaração: "Não acredito que queiram ir ao cinema para ver alguém que podem ver na rua", referindo-se obviamente a esses novos ídolos. A cena final, na praia, mostra perfeitamente o deslocamento das duas atrizes/personagens, diante da música frenética típica dos anos 60 tocada no rádio e dos jovens na praia com um visual que marcaria a época.

A trilha sonora não é marcante, mas seria um fator desnecessário, não estamos falando de um filme de Hitchcock, onde a trilha sonora exerce um papel quase que fundamental para o impacto de seus melhores filmes (o que seria a cena mais famosa de "Psicose" sem a trilha sonora?), em "Baby Jane" o desenrolar da história por si só já é o suficiente, mas obviamente apoiado por excelentes atuações. “O Que Terá Acontecido a Baby Jane” foi realizado com um orçamento baixo e com duas atrizes que já estavam virando história. Aldrich realizou um trabalho primoroso e produziu um dos melhores suspenses psicológicos da cinematografia americana, mesclando drama, humor negro e suspense. Era Hollywood fazendo uma leitura de si mesma, e com um primor inigualável.

sábado, 7 de novembro de 2009

Café com Leite (2007)


Primeiro curta metragem e filme brasileiro que eu coloco aqui no Blog. Eu não costumo assistir à curtas, mas esse me chamou a atenção pela quantidade de prêmios que ganhou e que continua ganhando (ver abaixo).

O diretor Daniel Ribeiro traz as telas um filme sobre encarar a realidade. Sem por em tema os clichês da maioria dos filmes sobre homossexualismo, que na maioria das vezes trata da aceitação, ele nos mostra a história de Danilo (Daniel Tavares). O jovem está em um relacionamento com Marcos (Diego Torraca) e pronto para sair de casa e finalmente viver a sua vida longe das preocupações de sua família. No entanto, a morte de sua mãe, deixa para ele a responsabilidade de cuidar de seu irmão mais novo, Lucas (Eduardo Melo). Agora ele terá que dividir seu tempo entre namorado de Marcos e pai/irmão de Lucas.

O copo de leite é posto em cena como uma metáfora ao amadurecimento, tanto de Lucas quanto de Daniel. O reconhecimento de Marcos por Lucas, como namorado de Dan é muito interessante. Vemos como as crianças entendem o amor com mais facilidade que os adultos. Destaque de atuação pra Eduardo Melo, uma das crianças que ouviremos falar em um futuro próximo (só esperamos que ele não caia em Malhação).

Finalizando essa curta resenha, indico o filme a todos que querem prestigiar uma película brasileira original e de qualidade.


PRÊMIOS

Prêmio Lente de Cristal de Melhor Curta-Metragem no Brazilian Film Festival of Miami 2008
Urso de Cristal no Festival de Berlim 2008
Prêmio aquisição Canal Brasil no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro 2007
Melhor Ator no Festival de Cinema de Campina Grande 2008
Melhor direção no Festival de Cinema de Campina Grande 2008
Melhor Filme no Festival de Cinema de Campina Grande 2008
Melhor Filme de Ficção no Festival de Cinema de Campina Grande 2008
Melhor Roteiro no Festival de Cinema de Campina Grande 2008
Prêmio Porta Curtas no Festival do Rio 2008
Menção especial no Festival Internacional de Cine y T.V. de Cartagena 2008
Melhor Roteiro no Festival Internacional de Cinema de Itu 2008
Os 10 Mais - Escolha do Público no Festival Internacional de Curtas de São Paulo 2008
Prêmio Moviemobz no Festival Internacional de Curtas de São Paulo 2008
Melhor Ator no Festival Paulínia de Cinema 2008
Melhor direção no Festival Paulínia de Cinema 2008
Prêmio Revelação no For Rainbow - Festival de Cinema da Diversidade Sexual 2008
Melhor Curta - Júri Popular no LesGaiCineMad - Espanha 2008
Diploma Especial - Sunny Bunny no Molodist - International Short-Film Festival - Kiev 2008
Melhor Curta - Júri Popular no Torino Film Festival 2008
Melhor direção no Curta Santos 2008
Melhor direção em Curta-Metragem no Festival de Cinema e Vídeo de Cuiabá 2008
Prêmio VIVO Audiovisual - Melhor Curta-Metragem no Florianópolis Audiovisual Mercosul 2008

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Shortbus (2006)

"Nova York é uma cidade onde as pessoas vão para serem perdoadas"

Este é o filme que provavelmente leva ao extremo variados tipos de sentimentos. O orgasmo (La petite mort, a pequena morte para os franceses) talvez seja o único sentimento realmente físico. O sentimos primeiro e isso afeta o nosso psicológico posteriormente. Não é como a tristeza, em que sentimos as lágrimas em nossa face após uma descarga de emoções em nosso cérebro.

Shortbus é um filme extremamente subestimado, principalmente pelas cenas de sexo explícito quem contém. Elas são de fato as únicas coisas comentadas às pessoas que não o viram, e estas, por sua vez, não o verão por um burro preconceito ou baixarão da internet e verão sozinhas sem falar para ninguém. Eu o assisti em um cinema que fica exatamente em frente à minha casa, famoso por passar filmes europeus e os independentes americanos. Com cinco minutos de filme , um casal de idosos saiu da sala claramente constrangido. Não era para menos, os diferentes orgasmos sendo atingidos de forma explícita e de maneiras variadas (até mesmo um falso) deixaria qualquer um estupefato.

“Nova York é uma cidade de desconhecidos”. Eu provavelmente já ouvi essa frase em pelo o menos três filmes. Embora ela já tenha se tornado um clichê para mim, ela serve de pressuposto crítico a qualquer filme passado em Nova York que eu assisto. E é claro, não são poucos. Desde “Homem Aranha” à “Se meu apartamento falasse”, a premissa é verdadeira. Esse talvez seja o encanto dos diretores e roteiristas pela cidade das luzes. Uma cidade que tudo acontece e aconteceu. Em um ano em que se celebra o quadragésimo aniversario do episódio conhecido como Stonewall, não apenas a luta pelas causas LGBT estão a flor da pele, mas também a luta pela igualdade de todas as minorias. A idéia de um clube Underground formado após o episódio de 11 de setembro que abrigaria essa minoria, mais fragilizada do que o de costume, é no mínimo interessante.

Então vamos à história, ou melhor, às histórias: a terapeuta sexual Sophia (Sook-Yin Lee) conhece o casal Jamie (PH DeBoy) e James (Paul Dawson). Este está considerando abrir o relacionamento sexualmente e Sophia está tendo problemas com seu marido, pois nunca conseguiu ter um orgasmo. Os dois a contam do clube Shortbus, uma válvula de escapa aos nova-iorquinos depois do onze de setembro. James sofre de uma grave crise de identidade que se reflete em uma depressão constante. Ex garoto de programa, está gravando um filme com a finalidade que descobrimos apenas no final. Outra figura importante no filme é a Dominatrix Severen (Lindsay Beamish), que é paga para bater. Ela conhece Sophia no Shortbus e as duas marcam sessões de terapia, na qual uma tenta ajudar a outra: Severen a fazer Sophia finalmente gozar e Sohpia a entender por que Severen não consegue ter um relacionamento sério duradouro. Os “Jamies” encontram um rapaz muito divertido para a abertura do relacionamento. Ceth (Jay Brannan) é um ex-modelo que está a procura desesperadamente de um marido.

Vouyerismo, sadomasoquismo, lesbianismo e mais um tanto de “ismos” fazem parte do contexto do Shortbus. O filme consegue tirar grandes risadas em cenas como a do ovo vibratório, controlado por um controle remoto que Sophia dá à seu marido e, provavelmente, a cena mais comentada do filme, em que em um ménage à trois, James canta o hino dos Estados Unidos na bunda de Ceth. Além de cenas de extrema comoção, como a conversa entre o ex-prefeito de Nova York e Ceth, em que a fala transcrita acima abaixo da foto foi retirada. Além da cena em que James aparece sob a luz, após Jamie já estar perdendo a esperança de encontrá-lo (literalmente e subjetivamente falando).

É difícil classificar Shortbus. Ao ser questionado a respeito da diferença entre a pornografia e o filme, o diretor John Cameron Mitchell disse que “O propósito da pornografia é estimular. Aqui a prioridade é a vida emocional dos personagens”. E está para eu ver um filme que retratou os sentimentos dos personagens tão aguçados quanto este. Sim, através do sexo, mas também da raiva, do constrangimento, da dor, da tristeza, e não deixando o clichê de lado, do amor.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Desencanto (Brief Encounter) - 1945

[Postado por Gian]Antes de dirigir "Lawrence da Arábia", "Doutor Jivago" e "Ponte do Rio Kwai", três das maiores produções cinematográficas já realizadas, David Lean tinha sua carreira concentrada em filmes britânicos, e foi nessa primeira fase, em meio a obras de gângsters e filmes noir produzidos durante a II Guerra, que ele dirigiu "Desencanto". Baseado na peça de Noel Coward, o filme não tem nada a ver com o gênero pelo qual o diretor ficou marcado: o épico, mas em minha opinião, é a sua melhor produção.

"Desencanto" é sobre um romance proibido entre um médico casado e uma mulher, também casada. Laura (Celia Johnson) é uma típica mulher dos anos 40, boa mãe e boa esposa. Entretanto, ao invés de focar sua vida apenas no marido e nos filhos, ela tem os seus momentos privados, mais precisamente todas as quintas-feiras, quando pega um trem e vai até outra cidade fazer compras, ler um bom livro e ir ao cinema, geralmente sozinha. Tudo está maravilhosamente bem até o dia em que ela está na estação de trem esperando-o para voltar para casa e, por causa de um cisco de carvão em seu olho, conhece o charmoso clínico geral Alec Harvey, que a liberta de seu pequeno incômodo. Após o incidente, os dois acabam por se encontrarem acidentalmente em outras ocasiões, e depois de um almoço inocente aqui e um cineminha ali, inevitavelmente se apaixonam.

A obra de Lean é fascinante, a começar pelo modo narrativo, em flash-back. Assim como em "Cidadão Kane", logo no começo do filme já nos é mostrado o final da obra, um desfecho triste da história de amor do casal, e é a partir desse final, que consegue transmitir uma carga dramática altíssima mesmo o espectador não sabendo exatamente o que está por vir (a genialidade se encontra nesse fator), que o enredo se desenrola, todo através da imaginação de Laura, que relembra os acontecimentos como se tivesse contando-os para seu amoroso e inocente marido, uma vontade de ser sincera que tenta reprimir a qualquer custo.

Além da narração relativamente fora do convencional, "Desencanto" possui uma fluidez de filmagem maravilhosa. Nunca ficamos cansados com o enredo, o filme é sim um melodrama, mas um melodrama de alto nível. Cenas como a de Laura rindo aliviada depois de uma conversa com seu marido (quando ela pensa que seu encontro com Alec não significou nada demais), ou quando seu amante está contando seus sonhos como profissional na área da Medicina Preventiva são muito prazerosas de se assistir. As passagens de amor entre Laura e Alec são puramente críveis, Lean nos faz sofrer com esse amor impossível e, ao concentrar boa parte da obra em uma estação de trem, sentimos a sensação de urgência e conseqüentemente de perigo iminente devido ao barulho da locomotiva e a sua pontualidade que, por causa da situação do casal, é absurdamente irritante. A obra também é focada mais no sofrimento de Laura, apenas sabemos um pouco da vida de Alec através de sua amante. Dentro outros motivos, esse foi um que fez com que a película fosse tachada, na época, como 'filme de mulher'.

Os atores principais nos presenteiam com atuações primorosas. Celia Johnson, na cena já comentada, deixa o espectador avisado sobre todo o sofrimento pelo qual o casal passou em poucas semanas, através de seu olhar, ao mesmo tempo confuso, desesperado e apaixonado, e com contrações nervosas da boca, uma sutileza de tirar o chapéu, além de sua voz doce, porém pesarosa. Trevor Howard faz o seu melhor ao dar vida a um médico sonhador e perdidamente apaixonado. O elenco coadjuvante dá um toque mais leve ao filme, especialmente a personagem interpretada por Joyce Carey (ela já havia atuado em outro filme de David Lean, "Nosso Barco, Nossa Alma), que trabalha na aconchegante cafeteria da estação, e seu affair interpretado pelo carismático Stanley Holloway (o divertido e simpático Alfred P. Doolittle de "Minha Bela Dama"), apesar da história entre os dois não acrescentar nada à trama ao não ser mesmo o alívio cômico. Cyril Raymond, o marido de Laura, também brilha em seus poucos momentos na tela. Por falar em cafeteria aconchegante, os cenários são bastante caprichados, destaque para a sala da casa de Laura e as cenas dentro do cinema (que serve como uma deliciosa curiosidade para os cinéfilos de plantão).

A direção de David Lean é segura, nunca se sobrepondo aos atores, pelo contário, ele tira o melhor deles. Filmado em preto e branco, Lean faz um belo contraste entre o claro das ensolaradas cenas matutinas (onde geralmente os amantes estão felizes, passeando de barco ou dirigindo por uma estrada), e o escuro, nas cenas da estação, como já dito, onde há sempre a sensação de urgência, e desespero devido principalmente ao peso na consciência da protagonista. Apesar do fator melodramático, os diálogos não são irritantemente melosos, pelo contrário, tudo é muito próximo do real, fazendo com que cada frase de Laura e Alec soe irreprochável.

“Desencanto” é um verdadeiro clássico, infelizmente pouco conhecido pelo grande público. De uma forma ou de outra, os épicos de Lean acabaram por ofuscar suas obras ‘menores’, mas não menos impactantes. Junto com "A Princesa e o Plebeu" (Billy Wilder), os filmes formam os dois maiores exemplos de uma obra sobre amor proibido de Hollywood.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Clamor do Sexo (Splendor in the Grass) 1961

[Postado Por Gian]Elia Kazan é um dos maiores diretores norte-americanos de todos os tempos, suas obras são magníficas, abordando sempre temas polêmicos e relevantes.

Citando alguns de seus melhores trabalhos, "A Luz é Para Todos" aborda o anti-semitismo, trazendo Gregory Peck como um jornalista que se passa por um judeu; "Sindicato de Ladrões" tem um tema político, estrelando Marlon Brando como um ex-boxeador que luta contra um sindicato de corruptos; "Vidas Amargas" retrata o drama de um jovem (James Dean) e sua dificuldade de relacionamento com o pai e "Uma Rua Chamada Pecado", com certeza o seu filme com o maior peso dramático, é a película com aspectos bastante semelhantes ao filme criticado aqui, sexualmente falando.

"Clamor do Sexo", depois de "Uma Rua", é o filme mais polêmico de Kazan. Os belíssimos Bud (Warren Beatty) e Deani (Natalie Wood) são jovens que formam um casal apaixonado no final dos anos 20, um ano antes da Grande Depressão. Bud é herdeiro de uma grande companhia de petróleo, já Deani é filha de um doceiro, mas a diferença econômica não é nem de longe o principal fator que vai interferir em seu relacionamento. E qual é então o fator principal? O simples e puro desejo sexual. Ora, estamos falando dos anos 20, uma época em que uma garota 'de família' não podia nem cogitar a idéia de transar com seu namorado antes do casamento, por mais que o desejo aflorasse. Na verdade, o desejo da mulher tinha que ser totalmente reprimido, como diz a mãe de Deani à filha: - Só fazemos essas coisas para satisfazer os nossos maridos, para reprodução. A mulher não sente tanta vontade quanto o homem. Com esse diálogo, vemos que realmente muita coisa mudou em menos de cem anos, e a década de 20 seria o ponto de partida para as grandes mudanças ocorridas nesse século.

Devido à essa repressão sexual, Bud começa a ficar cada vez mais e mais frustrado, ele ainda tem que enfrentar o dilema entre ir para faculdade e casar com Deani só depois da graduação, ou continuar na cidade e trabalhar como fazendeiro. Ele também sofre uma forte pressão por parte de seu pai, que deseja ter um filho estudado, típicos dilemas da época que ainda persistem de alguma forma. Para completar, Bud tem uma irmã que é a ovelha negra da família, o oposto de Deani, ela não liga para o que os outros pensam e não tem medo de satisfazer seus desejos, em 1928, uma verdadeira promíscua.

As atuações são um dos maiores pontos fortes do filme, e não era de se esperar por menos, vindo de um verdadeiro diretor de atores. Em "Uma Rua Chamada Pecado", Marlon Brando e Vivien Leigh dão um show de intepretação, nesse o desejo sexual entre os dois é claro e confuso ao mesmo tempo, não há amor entre os dois, apenas um desejo carnal e um ódio espiritual. O diretor também tira o melhor de James Dean em um de seus únicos três filmes, Dean é mais que convincente na pele de um jovem atormentado por sua família. Estudante ilustre do Método Strasberg, Kazan desenvolveu com seus atores (principalmente Dean e Brando, esse último consagrado em "Uma Rua") um modo peculiar (para a época) de interpretação: falando de uma maneira mais superficial, o método consistia em fazer com que o ator resgatasse sentimentos (bons ou ruins) de seu passado e assim usá-los em prol do papel que estaria interpretando; um método muito controverso, recebendo pesadas críticas de grandes atores como, por exemplo, o shakesperiano Laurence Olivier, mas isso é outra história.

Em "Clamor", ele dá para Warren Beatty o seu primeiro papel de destaque, e o jovem ator se sai muito bem, mas é Natalie Wood, que já tinha provado ser uma grande atriz no eterno musical "Amor, Sublime Amor" e em "Juventude Transviada, que rouba o filme. A sua depressão gradativa por conta do afastamento de Bud (seu desejo fala mais alto e ele vai procurar outra garota para satisfazê-lo) é impressionante. Esse aspecto não deixa de ser um pouco forçado por parte de Willian Inge, o roteirista, que exagera melodramaticamente ao internar Deani num hospício. O exagero é ainda maior, pois não nos é mostrado claramente o afastamento do casal, quando percebemos, Deani já está berrando histericamente na banheira de sua casa, ainda bem que Wood trabalha com muita competência, e assim acaba nos convencendo e tornando tudo o mais próximo do real. O elenco mais velho também está ótimo, destaque para Pat Hingle que interpreta "Bud's old man", Hingle possuía um carisma natural mesmo quando interpretava personagens mais duros, como o "Old Man" em "Gata em Teto de Zinco Quente".

Um paralelo interessante pode ser feito com "Vidas Amargas" no que diz respeito à relação pais e filhos, em "Vidas" o sofrimento do joven interpretado por James Dean é diretamente proporcional à indeferença do pai; já em "Clamor" não há culpados, a mãe de Deani apenas a criou como a sua mãe a tinha criado, e assim sucessivamente (um fator explícito na obra em um belo diálogo), era simplismente a cultura da repressão sexual que predominava nas famílias.

A partir daí o romance acaba e o enredo segue outro rumo. Bud decide-se por ir à faculdade, mas não consegue terminar nem o primeiro ano devido ao seu desajustamento no ambiente acadêmico (- Sempre achei que não são todos que devem frequentar uma universidade, diz o reitor de Yale). Deani se apaixona por um jovem no centro psiquiátrico e quando entramos em 29, a crise financeira mundialmente conhecida afeta às duas famílias, causando um dano trágico para uma delas. Mesmo que parte da tragédia da película seja por conta dessa crise (outro aspecto mal explorado, ainda que não seja o tema principal), é impossível não termos a impressão que todos os acontecimentos são desencadeados pela repressão sexual dos jovens. As frustrações, os medos, as inseguranças, tudo é aumentado por causa disso, no começo de um século que mudaria completamente o jeito de pensar do Ocidente.

Com uma direção correta, filmando algumas cenas com ângulos fora do tradicional (mas já usados em "Vidas"), Kazan é ousado em dirigir uma obra com temas fortes e pouco mostrados no Cinema ainda nos anos 60. Essa década serviu como caminho para o Cinema da década seguinte, que definiria os padrões da Sétima Arte até hoje, os anos 60 estavam aos poucos se libertando das amarras, abandonando as ingenuidades e hipocrisias dos anos anteriores, como o Código Hays (que afetou drasticamente o roteiro original de obras como "O Pecado Mora ao Lado", por exemplo). Um clássico importante tanto no seu aspecto artístico quanto histórico.


"What though the radiance which was once so bright
Be now for ever taken from my sight,
Though nothing can bring back the hour
Of splendour in the grass, of glory in the flower;
We will grieve not, rather find
Strength in what remains behind..."

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

O Show Deve Continuar (All That Jazz) - 1979

[Postado Por Gian]

O gênero musical entrou em decadência no final dos anos 60. A partir da década de seguinte Hollywood abriria mão dessas produções glamorosas e muitas vezes um tanto ingênuas para dar lugar a filmes com uma vertente mais pessimista, 'suja', política e consequentemente mais realista. A época de Ouro tinha se acabado. Entretanto, esse gênero não desapareceu por completo, em meados da década de 70 alguns bons exemplares foram produzidos, impulsionando assim a válida tentativa de não enterrar esse gênero que marcou a indústria cinematográfica, e um desses bons exemlos foi "All That Jazz".

Dirigido pelo escritor/diretor/coreógrafo Bob Fosse, a trama é um relato quase autobiográfico do próprio diretor, na tela interpretado por Roy Scheider. Joe Gideon (Scheider) é um coreógrafo perfeccionista que está produzindo um grande musical, mas ao mesmo tempo vive uma vida regrada de anfetaminas, cigarros e mulheres; entre os vários ensaios para a peça, Joe passa por poucas e boas em virtude dos vícios e do alto estresse, principalmente pelo fato de exigir demais de si mesmo.

"All That Jazz" não é um musical convencional por várias razões. A primeira delas e também a mais marcante é que a maioria dos números musicais nos são apresentados durante os ensaios frustrados coreografados por Joe, não há glamour nas roupas dos dançarinos ou nos cenários, há apenas o trabalho árduo e a beleza de seus corpos suados, com certeza esse é um aspecto revolucinário do gênero, que se esquivou da maneira como os musicais eram produzidos nas décadas anteriores, onde os números eram perfeitos e os dançarinos não derrubavam uma gota de suor. Outro motivo por esse ser um filme que marcou uma nova etapa do gênero é o fato de que os números dançantes não se sobrepõem a trama em si, muito pelo contrário, a vida cheia de prazeres (e sofrimentos) carnais de Gideon é retratada com muita solidez, não servindo como apenas um pretexto para os números musicais (diferente do que acontecia na época de Ouro de Hollywood quando em muitas ocasiões tínhamos enredos pífios, como nos filmes de Minnelli).

Mesmo sendo um musical, o filme pode se encaixar perfeitamente na onda pessimista (e realista) que dominou o Cinema a partir da década de 70. Logo na primeira cena vemos Joe conversando com o Anjo da Morte (Jessica Lange no auge de sua beleza), os dois falam sobre a vida do coreógrafo, fazendo um mapeamento de sua vida, Gideon não parece estar arrependido de nada. Esse aspecto negativo é bastante reforçado nas repetidas cenas onde Joe toma suas pílulas, coloca um colírio, toma banho com um cigarro na boca e logo depois se olha no espelho e diz: "Hora do show!".

O espectador pode perceber óbvias referências as obras de Fellini na película de Fosse, a mais evidente é como ele realiza de uma forma fantástica a mistura de realidade com fantasia, por exemplo, nas cenas com o Anjo da Morte ou quando ele relembra a juventude (outro aspecto parecido com o do filme de Fellini), com certeza a obra do diretor italiano de maior referência é "Oito e meio", que possui um enredo parecido com o do musical. Ambos mostram um diretor frustrado com sua vida pessoal e artística, em que não consegue achar inspiração para sua obra.

Roy Scheider está maravilhoso, com uma expressão sempre dividida entre os prazeres e a insatisfação, ele consegue com sucesso passar para o espectador a vida instável de um artista genial, onde há (quase) sempre um preço a se pagar. Jessica Lange também se mostra competente ao contracenar com Scheider, como se ela fosse sua psicanalista ou apenas uma amiga misteriosa. Destaque também para Ann Reinking, que interpreta um dos affairs de Joe, ela e a filha pequena do diretor brilham em todo o filme, porém na cena onde as duas fazem um número improvisado para animar o estressado artista é simplesmente maravilhosa. E nada de glamour!

"All That Jazz" é isso, um musical realista e um dos responsáveis pela sobrevivência do gênero. Uma obra muito bem dirigida por Bob Fosse e com uma ótima edição, sem prolongar desnecessariamente as cenas que poderiam se tornar piegas.

Na década de 80 e 90 foram produzidos pouquíssimos musicais relevantes, apenas agora na virada do século é que houve uma nova injeção de ânimo e criatividade, com obras inspiradíssimas como "Moulin Rouge" e "Chicago" (com o glamour todo de volta), só nos resta esperar para ver se mais idéias criativas produzirão essas películas cantantes e dançantes que marcaram tanto a história de Hollywood, com suor e realismo ou não.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

De repente, No Último Verão (Suddenly, Last Summer) – 1959

Grande parte da genialidade do diretor Joseph L. Mankiewicz se encontra em escolher roteiros de impacto para seus filmes. A Malvada tem um roteiro tão fantástico quanto às suas atuações. De repente, no último verão não é diferente. Baseado na peça de Tennessee Williams, a história causa impacto, choca e até mesmo diverte em certos momentos (Risadas de pena, como diz Barbra Streisand).

À priori, a loucura nos é mostrado como tema principal da obra. No entanto, o interesse que move todos os personagens se mostra muito mais importante. O interesse do jovem médico, Dr. Cukrowicz (Montgomery Clift), em validar e creditar sua nova cirurgia; o interesse do diretor do hospital estadual, em arrumar um investidor para quitar as dividas do hospital e aplicar em recursos para o mesmo; o interesse de Violet Venable (Katharine Hepburn) em esconder os segredos de seu falecido filho; o interesse financeiro Grace e George e até mesmo o interesse da jovem Catherine (Elizabeth Taylor) em sair do manicômio.

Assim como em Rebecca (1940), o personagem principal não se encontra no filme, mas todas as suas características, seu gênio, e ao longo da película, seus segredos, são revelados de tal forma que conseguimos vê-lo com perfeição, como se realmente estivesse atuando. Assim é o falecido Sebastian: um jovem poeta, rico que tem uma relação bastante estranha com sua mãe. Todo verão, os dois viajam juntos para países exóticos, onde o jovem termina seu único poema que estivera construindo ao longo do ano. De repente, no último verão, Sebastian decide deixar sua mãe e levar sua prima, Catherine para viajar consigo.

O poeta morrera no último verão, e Catherine ficou louca. O jovem médico é então chamado pela mãe para realizar a cirurgia de Lobotomia na sobrinha, que de acordo com ela, está precocemente demente. O jovem é claro, se apaixona pelos encantos da moça que está realmente transtornada (Era um filme dos anos 50, tinha que ter alguma paixão mesmo o filme mais dramático ou assustador. Vejam Lugar ao Sol). Descobertas são feitas e a loucura troca de papéis.

Na minha forte interpretação do filme, Sebastian era gay e muito tímido. Por este motivo, utilizava sua mãe e, no útlimo verão, sua prima para chamar a atenção de jovens excitados. Os tais contatos a que Catherine se refere são claramente sexuais. Vale lembrar que Tennessee era gay e assumido. Em várias de suas obras podemos notar o homossexualismo implícito em algum personagem e claro, os distúrbios sofridos pelos mesmos, que pode talvez ser explicada pela perturbada infância do teatrólogo.

Os Desajustados (Misfits, The) - 1961)

[Postado Por Gian] 'Os Desajustados' é um filme marcante por três motivos. Primeiro, ele foi o último filme da carreira de dois lendários artistas do cinema: Clark Gable e Marilyn Monroe. Segundo, ele é o filme que mostra a real capacidade de atuação de Monroe e terceiro, é um filme sólido com um tema bastante forte, principalmente para a época.

O filme dirigido pelo também lendário John Huston (O Tesouro de Sierra Madre, Relíquia Macabra) nos conta a história de Roslyn Taber (Monroe), uma linda mulher que acaba de separar do marido. Após o divórcio, ela e sua amiga Isabelle (Thelma Ritter) conhecem Gay Langland, um típico caubói mulherengo, sem emprego fixo e que caça cavalos selvagens para depois vendê-los aos fabricantes de comida de cachorro. Juntamente com Gay, as duas também conhecem um amigo do caubói, Guido (Eli Wallach) e finalmente outro caubói, Perce (Montgomery Clift), e assim, esse quarteto Monroe-Gable-Clift-Wallach passam a viver uma espécie de triângulo (ou quarteto?) amoroso.

'Os Desajustados' é antes de tudo um filme pessimista. Todas as personagens principais possuem um passado marcado por algo ruim: Roslyn se divorcia devido à indiferença do marido, Gay é separado da mulher e quase não vê os filhos, Guido é um ex-combatente de guerra que perdeu a mulher enquanto ela ainda estava grávida, e Perce é um caubói errante que não possui mais uma carinhosa relação com sua mãe depois da morte do pai. Por causa desses acontecimentos em suas vidas, as personagens estão em constante conflito interno, perdidas no mundo, o título do filme não poderia ser mais apropriado.

Escrito por Arthur Miller, o roteiro é praticamente a personificação da vida de Marilyn Monroe, sua mulher na época. A vida Roslyn se parece muito com a de Monroe, e quem conhece pelo menos um pouco a vida do maior ícone do Cinema, saberá que isso não é mera coincidência, Miller escreveu o papel especialmente para a esposa. Tanto Roslyn quanto Marilyn não tiveram a mãe por perto quando criança, na película dá-se a entender que a mãe de Taber vivia fora de casa por conta de um caso extra-conjugal (3 meses fora de casa é muito tempo para uma criança) e que seu pai fora ausente, já a mãe de Marilyn passou boa parte de sua vida internada em hospitais psiquiátricos, e ela nunca soube a verdadeira identidade do pai, o que levou a pequena Norma Jean a passar vários anos de sua vida em orfanatos. Ambas estão perdidas, Roslyn diz que não sabe o lugar ao qual pertence, e sua intérprete sempre dizia à imprensa que não pertencia a ninguém, apenas ao público (Norma Jean passou a vida toda tentando achar sua 'identidade', e quando se tornou Marilyn Monroe, essa questão se tornou ainda mais difícil); as duas também tiveram um casamento falido (no caso de Marilyn, dois) e por fim, Monroe tinha aversão ao mal tratamento de animais, assim como Roslyn.

Bastante diferente das louras burras que interpretou em filmes como "Os Homens Preferem as Loiras" e "O Pecado mora ao Lado", Monroe nos apresenta uma atuação primorosa, brilhante; talvez pelo fato da personagem ser tão parecida com ela, talvez pelo fato de que em 1961 Marilyn já tinha uma boa bagagem de trabalho, ou talvez pelas duas coisas. A razão realmente não importa, quando a vemos na tela, temos a certeza que Monroe conseguiu chegar aonde ela tanto almejava estar: no mesmo patamar de outras grandes atrizes, e com certeza ela teria ido mais longe, se não fosse pela sua morte prematura em 62. Com um visual mais 'desleixado' (se comparado a seus filmes anteriores) e um pouco mais gordinha (mas sem jamais perder seu natural sex appeal), seu olhar consegue exprimir com perfeição toda a angústia sofrida por Roslyn, mas ao mesmo tempo ela consegue abrir um sorriso, que como diz Gable: "parece que o sol acabou de aparecer". E Monroe era exatamente assim na vida real, sua mente sempre divida por uma linha tênue entre a tristeza e a felicidade, a tristeza vivida por Norma Jean Baker que a todo momento tentava apagar seu triste passado, e a alegria vivida por Marilyn Monroe, que tentou a todo custo mudar completamente de vida tal como mudou seu nome.

Marilyn Monroe não teve muita chance de mostrar do que realmente era capaz, ela já tinha estrelado um drama contundente no início de sua carreira, interpretando uma babá psicótica em 'Almas Desesperadas', apesar do seu bom desempenho, a Fox não aproveitou esse seu lado dramático, deixando-a na maioria das vezes com papéis cômicos (o que ela fez com muita competência, diga-se de passagem), mas por essa razão, ela não era considerada uma atriz que podia ser levada a sério. Marilyn sempre foi muito insegura, não acreditava em seu talento, isso era devido a vários fatores, além de sua falta de confiança natural, sua instrutora dramática, Nathasa Lytess, exercia uma forte pressão sobre ela, a musa só sentia que tinha se saído bem em alguma cena se obtivesse a aprovação de Lytess. Provavelmente essa consideração iria começar depois de 'Os Desajustados', depois que Marilyn já havia se 'livrado' da instrutora e sua confiança para atuar tinha crescido, mas então já era tarde demais.

Entretanto a obra não é só dela, Gable está ótimo como Gay (isso não é um trocadilho), sua personagem faz um ótimo par com a de Monroe, apesar de não ter um emprego ou lar fixo, ele vive tranquilamente, como Gay mesmo fala, ele simplesmente vive e é isso que ele quer que Roslyn sinta, a vida. Num diálogo entre Gay e Roslyn, ele diz: - Nunca vi uma moça tão triste, ela responde, rindo: - Engraçado, os homens sempre me falam ao contrário, e Gay diz: - É porque você os faz sentirem felizes; esse diálogo parece ter sido feito diretamente para Marilyn, Miller a conhecia muito bem, e conseguiu com proeza criar uma personagem baseada em sua esposa.
Montgmery também está muito bem como o caubói que não teme a morte, mas seu papel é um pouco ofuscado, talvez porque a trama se concentra mais no triângulo Roslyn-Gay-Guido. Wallach intrepreta com confiança um homem amargurado pela morte da esposa e pelo

sofrimento pelo qual se viu vítima quando estava na guerra (bombas são como mentiras, você as joga e tudo fica calmo). E destaque também para Thelma Ritter, com seu sotaque do Brooklyn, sua personagem salva o filme do completo pessimismo, cada fala sua é cheia de uma ironia deliciosa (ela já tinha nos deliciado com seus papéis em Janela Indiscreta e A Malvada, uma eterna coadjuvante).

No começo da crítica eu disse que o filme tinha um tema forte, e isso é devido principalmente a descontrução que se faz sobre a insituição do casamento. Roslyn e Gay são separados e a mãe de Perce mudou da água para o vinho depois da morte do marido e quando se casou pela segunda vez, apenas três meses depois (ela parecia uma santa, sempre ao lado do meu pai). Isabelle até comemora os aniversários de seu divórcio e diz que já testemunhou 77 separações, quando Roslyn conta o motivo pelo qual está se separando (eu sinto que ele está lá, mas não posso tocá-lo), ela responde com um tom irônico que se esse fosse o motivo de todo o casal se separar, restariam apenas 11 casais nos E.U.A.

E por fim, temos o grande John Huston, que filma a obra com uma grande habilidade, a cena da perseguição dos cavalos é magnífica, o controle que Huston tinha em cenas filmadas em locais abertos é impressionante (vemos esse controle também em "Uma Aventura na África). O último ato do filme é todo concentrado nessa perseguição que o trio Gay-Guido-Perce faz aos poucos cavalos selvagens que restam, numa paisagem árida, para o desespero de Roslyn. Essa perseguição representa o próprio desajustamento das personagens, tentando prender cavalos com cordas numa paisagem deserta, o espectador percebe que eles próprios estão, de alguma maneira, querendo ser 'amarrados', talvez numa vida mais tranquila.

Por fim, o filme ainda possui um tom macabro pelas personagens sempre estarem falando sobre a morte, em uma cena tocante e linda, Roslyn diz à Guido que as pessoas morrem sem ensinar nada uma às outras (e isso também é condizente com a vida de Marilyn, que passou momentos frustrantes quando as pessoas negligenciavam a sua inteligência), Gay diz que apenas quem tem medo de viver tem medo de morrer, e Guido, por causa da morte da esposa e da sua experiência com a guerra, também faz declarações sobre a dita cuja tão temida. Escrevo sobre esse tom macabro pois Clark Gable morreu onze dias depois do término das filmagens (ataque do coração), Monroe faleceu menos de um ano depois (deixando um filme incompleto), Clift viveu por apenas mais cinco anos e Thelma Ritter nos deixou em 1969.

Possuindo também uma bela fotografia, "Os Desajustados" é uma grande obra, provavelmente o melhor filme de Marilyn Monroe e também um dos melhores de John Huston, imperdível!

Curiosidade: Durante as gravações, Gable "brincava" dizendo que acabaria por morrer de infarto devido aos atrasos crônicos de Marilyn...

A Princesa e o Plebeu (Roman Holliday) - 1953

Mais um filme com essa estonteante atriz e pessoa. Audrey Hepburn brilha pela primeira vez em uma grande produção de William Wyler. O filme é A Princesa e o Plebeu, uma história tão ingênua e simples que só poderia ter ficado na memória daqueles que apreciam uma boa comédia romântica.

A princesa Ann (Audrey Hepburn) está em uma turnê de compromissos políticos pela Europa. Em Roma, saturada de tudo e de todos que rodeiam sua vida “real”, a princesa decide fugir e conhecer a cidade. No entanto, ela havia sido medicada por seu medico com um sonífero e acaba dormindo nas ruas de Roma. Encontrada pelo jovem jornalista americano Joe Bradley (Gregory Peck) ela é resgatada. No dia seguinte, o jornalista descobre quem ela realmente é, e vê ai uma possibilidade de matéria exclusiva com a princesa. Ela, é claro, não iria ficar sabendo de suas intenções.

Joe e Ann passeiam por toda Roma, visitando monumentos e lugares famosos da cidade; e o que era para ser um dia de diversão para ela e mais um dia de trabalho para ele, se torna uma história de romance impossível. Ao final do filme, mesmo sabendo que ele sabe quem ela realmente é, a princesa decide não falar nada, no entanto, o sentimento de perda é mutuo. A cena em que ele a leva de volta a embaixada é realmente tocante “leave me, as i leave you”, para mim, cenas como essa tornam de um filme um clássico.

O filme foi inteiramente filmado em Roma (o que era uma grande coisa na época). A produção foi formidável, a direção foi certa e as atuações esplendidas. Audrey recebeu o oscar de melhor atriz e a partir daí, decolou para outras produções de Hollywood. Mais um filme que eu recomendo.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

O Lutador (The Wrestler) - 2008

[Postado por Gian]A melhor frase que pode definir essa obra de Darren Aronofsky seria: Um filme de grandes atuações! Nesse aspecto, "O Lutador" quase se equipara à filmes como "Quem tem medo de Virgínia Woolf", "Uma Rua Chamada Pecado", "Gata em teto de Zinco Quente" e o mais recente, "Dúvida". Todas essas películas tem em comum a maneira de como conseguem, acima de tudo, conquistar o espectador pelas atuações brilhantes. O filme em questão não possui um roteiro tão original quanto os filmes citados acima, mas ele é triufante ao convencer quem o assiste de que o mais importa é como os atores conduzem essa história, e essa condunção é espetacular!

Randy "Carneiro" Robinson (Mickey Rourke) fez muito sucesso nos anos 80 como um lutador de luta-livre, mas por causa de sua vida sem limites, vinte anos se passam e nós é mostrado o preço pago por Randy por essa vida 'porra-louca': agora ele vive num trailer, luta apenas nos finais-de-semana em pequenos clubes e trabalha num supermercado para complementar sua renda.

Apesar do filme ser divinamente dominado por três atores, é Mickey Rourke que chega ao sublime. Sua vida pessoal se parece com a de Randy, como o lutador, Rourke também teve uma carreira que prometia levá-lo ao patamar das maiores estrelas, entrentanto o ator acabou sendo deixado de escanteio (também por causa de uma vida sem limites) e passou a estrelar, a partir da década de 90, apenas filmes B.

Muitos acham que Rourke só foi elogiado pela sua atuação porque a vida do lutador no filme se confude com a sua própria, afinal ele também tinha se dedicado ao boxe. Mas não é nada disso, sua perfomance é tão brilhante que é impossível pensar que tudo não passou de "um ator derrotado fazendo sua própria vida". Rourke apenas fez as escolhas erradas e com isso acabou por criar nos grandes produtores e diretores uma negligência em relação a ele, passando a impressão de apenas mais um que teve uma carreira passageira, e essa situação, é claro, acontece com vários artistas talentosos.

Analisando o filme pelo filme (que é a melhor maneira de se analisar qualquer forma de arte), temos um ator que nos mostra a verdadeira arte de atuar. Rourke faz de Randy um homem apaixonado pela única coisa que sabe fazer, apesar dos seus dias de glória já terem ido embora há muito tempo. A película é basicamente sobre como uma pessoa pode (ou não) se ajustar na sociedade depois de ter vivenciado uma vida de sucesso. Randy ainda é respeitado nos clubes onde luta e uma vez ou outra é reconhecido na rua, mas isso não basta, o que ele ama é estar rodeado pela sua 'família' (os espectadores das lutas, como ele mesmo diz), entretanto essa família apenas pode ser encontrada em um número bastante reduzido aos finais-de-semana.

Mas a película não gira apenas em torno dele, Marisa Tomei (outra atriz pouco aproveitada) também dá um show ao dar vida a Cassidy, uma stripper que é amiga e affair de Randy, apesar do corpo esbelto, ela já é considerada por muitos 'velha' para os padrões dos clubes de strip-tease, mas ainda assim Cassidy tenta seguir sua vida dançando, apesar de saber que os seus dias de 'glória' já acabaram. Ou seja, temos aqui duas pessoas tentando de alguma maneira continuar simplesmente a serem o que são, tentando fazer com que o tempo não tirem deles seus únicos talentos.
Devido ao rumo que sua vida tomou, Randy possui outro grande problema, que é o de tentar reconquistar a sua filha, ao contrário de Cassidy que apesar de tudo possui seu filho ao seu lado, o lutador procura sua filha (Evan Rachel Wood) com a esperança de uma reconciliação, mas apesar de saber o que precisa para poder conquistá-la, ele falha, e numa comovente cena entre os dois, Randy fala humildemente que sabe que errou, e sabe que continua a errar, ele apenas não consegue deixar de ser o que é, uma sinceridade comovente.
E não podemos esquecer de falar um pouco de Wood, com certeza ela é uma atriz com uma brilhante carreira pela frente, ela mostrou uma ótima perfomance em 'Dúvida' e agora nesse filme ela reforça seu talento, mesmo aparecendo pouco.
Diferente das técnicas mais sofisticadas usadas em "Réquiem para um Sonho" e "Pi", Aronofsk dirige a obra de uma forma quase documental, com a câmera na mão sempre mostrando as costas de Randy, como se ele sempre estivesse pronto a entrar num ringue. A cena que mostra seu primeiro dia como balconista é comovente ao mostrar as costas do lutador e os gritos dos espectadores, nessa cena temos a certeza que o lugar de Randy não é ali, só existe um lugar apropriado para ele, o ringue. As cenas de lutas, apesar de serem de certa forma coreografadas, são magníficas, Rourke consegue passar com tanta verdade a paixão de Randy pela luta-livre, que em nenhum momento sentimos nojo ou asco do esporte praticado (e olha que eu detesto lutas).

Por fim, não se deixe enganar pensando que a obra é apenas mais uma sobre 'luta de boxe', um derivado de Rocky ou Menina de Ouro, ele é muito mais que isso, é uma obra pura e simplesmente sobre um ser humano, que como um verdadeiro exemplar dessa espécie, fez escolhas erradas, se é que pode ser chamado de 'errado' alguém que não consegue deixar de ser o que é.

sábado, 15 de agosto de 2009

Se Meu Apartamento Falasse (The Apartment) – 1960


As obras de Billy Wilder são marcadas por histórias extremamente originais e produções impecáveis. Em “Crepúsculo dos Deuses” (1950) foram usadas pedra poro para empoeirar a antiga mansão de Norma Desmond. O perfeccionismo é lembrado de forma positiva pelos atores que trabalharam com Wilder, afinal de contas papéis fantásticos nasceram de suas mãos.

Se meu apartamento falasse conta a história de Bud Baxter (Jack Lemmon), um funcionário de uma companhia de seguros que empresta a chave de seu apartamento para que colegas da empresa em que trabalha levem garotas, em troca eles prometem a Baxter uma ajuda na promoção. O rodízio da chave pela empresa dá certo até o dia em que seu chefe lhe chama para dizer que sabe do esquema e logo a pede emprestada também. Baxter é promovido de cargo quase que instantaneamente e para comemorar decide sair com Fran Kubelik (Shirley Maclaine), uma encantadora operadora de elevador da empresa.

O filme da uma reviravolta ao descobrirmos que Fran está tendo um caso com o chefe de Baxter, que é casado. Ao abandoná-la no apartamento na noite de natal com falsas promessas de separação, Fran decide por um fim em sua vida: Toma diversos soníferos. Por sorte, Baxter chega em seu apartamento e consegue chamar um médico para cuidar de Fran. Os cuidados e carinhos trocados pelos dois se tornam mutuo e daí surge o amor entre os dois.

O tema da superpolução na cidade de Nova York também pode ser notado no filme. A primeira fala é cheia de números, até chegar ao que representa Baxter. “Em primeiro de novembro de 1959 a população da cidade de Nova York era de 8.042.783 habitantes (...) nossa central tem 31.259 empregados (...) trabalho no 19º andar, departamento de políticas ordinárias, divisão de contabilidade, sessão W, mesa numero 861”. Nova York é uma cidade de anônimos, talvez essa seja a causa de tantos artistas buscarem nela um refugio; Greta Garbo parou de trabalhar aos 40 anos, mudou de nome e se mudou para lá. Uma cidade com tantos atrativos, possibilidades de entretenimento e pessoas para se conhecer tem um dos maiores índices de suicídio do mundo.

O suicídio foi retratado com tanta frieza que eu cheguei a ficar espantado em certa parte da história. Baxter diz à Fran que tentou se matar certa vez, no entanto, apenas atirou em seu joelho acidentalmente. Nas entrelinhas do filme estão a história desses anônimos de Nova York, dentro de pequenos apartamentos que escondem histórias fantásticas. Pessoas comuns, sozinhas e que buscam desesperadamente o sucesso. Quando não alcançado procuram uma solução mais fácil.

O filme ganhou cinco oscars: melhor filme, melhor diretor, melhor roteiro original, melhor direção de arte-preto e branco e melhor edição. Mais do que recomendado é obrigatório aos amantes da 7º arte.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Agora Seremos Felizes (Meet me in St. Louis) - 1944

[Postado por Gian]Os musicais de Minnelli são conhecidos por sua leveza, simplicidade e canções que, ao meu ver, não são muito marcantes, mas não deixam de ser adoráveis. Agora Seremos Felizes é um desses casos, um musical descontraído que tem Judy Garland como seu melhor atrativo.

Vamos a história: Esther (Garland) é uma das quatro irmãs de uma típica família americana, eles vivem em St. Louis e o ano é 1903, ela é apaixonada por seu recém-chegado vizinho e sua irmã mais velha, Rose, está esperando um pedido de casamento, há também a irmã mais nova que parece adorar a cidade mais do que os outros, embora ela consiga ser insuportável na maior parte do filme (tenho a impressão que a dublagem ajudou nessa questão), porém tudo muda quando o chefe da família decide, por razões de trabalho, se mudar para Nova York.

O enredo é bem simples e por se tratar de um musical, consequentemente não é bem desenvolvido. Os filmes musicais de Minnelli tem o desenvolvimento ainda mais simplório do que o esperado, mesmo quando falamos desse tipo de gênero. O romance entre Esther e seu vizinho é bastante sem sal, e não há nenhum conflito propriamente dito. A trama é mais um pretexto para os números musicais, que por sinal são bem agrádaveis, canções como 'Meet Me in St. Louis, Louis', 'Have Yourself a Merry Little Christmas ' e principalmente 'The Trolley Song' fazem a película valer a pena, e claro, a encantadora Judy Garland no auge de sua beleza. Foi nesse filme que Minnelli conheceu a atriz, que se tornaria sua esposa.

Apesar de simplicidade, é impossível não deixar de admirar o charme desse musical da Era de Ouro de Hollywood, assim como outros do diretor: "Gigi", "Sinfonia de Paris" e "A Roda da Fortuna" não são obras-primas, pelo menos não se comparados a obras como "A Noviça Rebelde", "Cantando na Chuva" e "My Fair Lady", (nesses três últimos musicais é possível guardar no mínimo uma canção depois de assistir pelo menos uma vez, o que eu já acho mais difíceis nas produções de Minnelli), mas o espectador sente o amor com o qual essas produções foram feitas, é uma sensação que nunca será sentida nas obras atuais (nem nos musicais), existe uma mágica inexplicável nessa época do Cinema.

É também interessante notar um aspecto histórico no filme: quando a família descobre que irão se mudar para Nova York, ela fica apreensiva pelo fato das pessoas de lá morarem em "apartamentos apertados", bem diferente das casas espaçosas de St. Louis, Nova York já parecia uma 'loucura' em 1903! Imaginem essa família transportada para os dias atuais?

domingo, 2 de agosto de 2009

Aurora (Sunrise: A Song of Two Humans) - 1927

[Postado por Gian]

Aurora é indiscutivelmente uma obra prima, um grande marco, tanto no cinema quanto na carreira do grande diretor F. W. Murnau. Um filme incrivelmente belo, com passagens inesquecíveis e brilhantes atuações.

A década de vinte foi a década do auge dos filmes mudos, onde gênios como Buster Keaton, Charles Chaplin, Murnau e Fritz Lang realizaram várias obras que são considerados obras primas e estão sempre em listas de melhores filmes.

Aurora é um deles. O filme de 1927 é primoroso ao abordar um tema aparentemente simples, mas cheio de emoção. Englobando drama, romance e até comédia, a obra de Murnau nos conta a história de um fazendeiro que se sente atraído subitamente por uma bela jovem da cidade grande, assim que ela descobre que ele é casado, a mulher não pensa duas vezes ao incitá-lo a matar sua mulher, afogando-a. É claro que há um certo absurdo em como a trama se desenrola no começo, como a rapidez com que o fazendeiro aceita a idéia da jovem, porém esses 'detalhes' são perdoados, afinal, o contexto em que eram relaziados os filmes desse tempo não podem nunca ser comparados com o de hoje em dia, o cinema funcionava diferente e pronto.

Mas nada atrapalha o desenrolar do filme, principalmente a partir da cena onde o casal está no barco, simplesmente macabra e arrebatadora, e quando logo depois vem o romance, cada cena filmada por Murnau é cheia de perfeição e sentimento. Eu até discordo da opinião de diretores e atores na época do rebuliço da passagem do cinema mudo para o falado, em que alegavam que o cinema não iria funcionar se adotassem as falas (Charles Chaplin foi um deles), porém ao ver Aurora, nos damos conta de como os dialógos seriam extremamente desnecessários, redundante, aqui o Cinema é pura imagem. A magia de tudo está nas atuações, principalmente na dos atores principais, George O'Brien, o marido, e Janet Gaynor, a esposa (que inclusive ganhou o primeiro oscar de Melhor Atriz!). Juntos, eles entram no hall dos melhores casais do cinema.

Há um certo 'exagero' nas expressões e nos trejeitos dos atores, mas isso era comum na época, esse 'exagero' era para 'compensar' a falta de diálogos, e ainda estamos falando de um filme de Murnau, que usou técnicas do expressionismo alemão para filmá-lo, como nas atuações e na fotografia, bem escura. Cinco anos antes, o diretortinha filmado a também obra prima Nosferatu, onde usou e abusou das técnicas do expressionismo.

Juntando a brilhante direção com as magnifícas atuações, cada cena de Aurora é inesquecível, dou ênfase a quando o marido pede perdão à esposa na igreja, simplesmente um espetáculo! E logo depois as cenas mais românticas que vão se desenrolando também são lindas, cheias de ingenuidade, mas adoráveis. Concordo com o Koball quando disse que algumas cenas cômicas parecem forçadas (no melhor estilo de Hollywood), mas nem isso atrapalha a grande obra que é Aurora.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Sabrina (1954)

Isn't it Romantic?

Eu tenho uma paixão por comédias românticas que pode ser explicada pela simples razão de eu adorar um clichê. As falas prontas, a melação entre os personagens que enfrentam poucas e boas para terminarem juntos no final e aquele brilho nos olhos dos apaixonados quando se vêem pela primeira vez são refletidas nos pêlos dos meus braços se arrepiando e ocasionalmente algumas lágrimas nos olhos. Sim, eu me comporto pateticamente em certos filmes.

Sabrina é talvez uma das melhores comédias românticas de todos os tempos, e para mim a segunda melhor da encantadora Audrey Hepburn. A filha de um chofer é apaixonada pelo filho do patrão desde criança, David (William Holden) é o típico filinho de papai dos anos 50: freqüentou as melhores faculdades, namora as filhas da sociedade nova yorkina e não tem a menor responsabilidade nos negócios da família. Já seu irmão, Linus (Humphrey Bogart), é o responsável da família: o menino de ouro que se graduou com méritos em Yale e dirigi a empresa do pai.

Para esquecer David, Sabrina vai para Paris, onde estuda na melhor escola de culinária. Lá ela conhece um Barão que lhe abre portas, tanto de camarotes em óperas quanto de salões de beleza. Depois de dois anos, Sabrina volta para Long Island, agora mudada tanto no visual quanto em sua maneira de agir e enfrentar o mundo. Ainda apaixonada por David, consegue chamar sua atenção, no entanto, um pequeno acidente com taças de champanhe o torna incapacitado de sair com Sabrina por algumas semanas. Seu irmão, Linus, fica encarregado de levá-la ao teatro, jantares e um ocasional passeio de barco. Se isso não o fizesse se apaixonar pela filha do chofer eu não sei o que faria.

As atuações fantásticas, os cenários deslumbrantes e o figurino impecável fizeram desse filme uma produção classe A. O vestido simples que Audrey veste no começo do filme foi criado pela criativa Edith Head, no entanto, o figurino que Audrey usa após retornar de Paris foi desenhado pelo estilista Humberto de Givenchy que foi procurado especialmente pela atriz. Apesar da decepção de Humberto ao saber que não era Katherine Hepburn quem o procurara, a parceria do estilista com Audrey se tornou uma das combinações mais perfeitas no mundo da moda.

As descobertas de amor e de responsabilidade pelos irmãos Larrabee são exploradas ao longo do filme pelo diretor e roteirista Billy Wilder. Wilder teve a criatividade de tornar uma história tão simples em algo tão glamuroso e eterno aos olhos de quem têm a sensibilidade de enxergar uma comédia romântica em sua forma mais pura.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Alice

"Mais vale uma Alice Voando, do que mil Alices com o pé no chão"
Este mês a HBO reprisa o seriado Alice que estreou no ano passado aqui no Brasil. A série é tão original, poética, dramática, divertida e simplesmente gostosa de assistir que vale a pena conferir a estréia dessa magnífica atriz: Andréia Horta.

Alice é uma guia de turismo de Palmas, Tocantins. Quando recebe a noticia de que seu pai havia falecido, ela decidi ir à São Paulo para o enterro. Seu noivo, seus amigos e sua família são deixados de lado quando ela descobre os prazeres dessa cidade do pecado. Alice vai morar com sua tia Hippie, Luli (Regina Braga), que tem um relacionamento lésbico com uma antiga amiga. Arruma um emprego em uma agencia de eventos, onde tem a chance de ir para as baladas e festas mais Vips de Sampa.

Ao decorrer do seriado outras histórias são contadas, como a da amiga de Alice, Dani (Luka Omoto), que acaba por ter um relacionamento à três, com seu namorado, Téo (Juliano Cazarré) e sua colega de apartamento, Marcela (Gabrielle Lopez). Drogas, bebidas e várias baladas são mostradas com um ar psicodélico e acredito que foi o que mais chamou a atenção dos jovens pela serie. Vale chamar a atenção para a fotografia, tanto das festas quanto ao mostrar a cidade de São Paulo, que foi homenageada de forma tão intensa pelos produtores.

Lutas de Telecat, sexo quase que explicito e músicas feitas sobre medida fizeram da série uma das melhores produções da HBO. É uma pena que o final do seriado não manteve o nível do começo. Mesmo assim, vale muito a pena acompanhar a saga de Alice, que é uma clara referencia à do País das Maravilhas. Ele reprisará do dia 21 de Julho ao dia 5 de Agosto pelo canal pago.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Quase Famosos (Almost Famous) 2000

''Never take it seriously, If you never take it seriously you never get hurt. If you never get hurt, then you always have fun, and if you ever get lonely you just go to the record store and visit your friends.''

Meu interesse pelos anos 70 americano começou por causa de um seriado transmitido pela Sony chamado That 70’s show. Ele contava a história de seis adolescentes em uma época em que a maconha era o lanche da escola e o Rockn’roll era a trilha sonora. A primeira vez que eu assisti à “Quase Famosos” esse seriado me veio à mente quase que instantaneamente. A fotografia, a história e principalmente as musicas eram uma verdadeira homenagem a essa época extremamente interessante e marcante para a cultura norte americana.

O diretor Cameron Crowe baseou o roteiro em suas próprias memórias quando escrevia para a Rolling Stones sobre a banda Led Zeppelin, aos 15 anos, e participou de parte da turnê da banda. Ele se transpôs ao personagem William Miller (Patrick Fugit), um adolescente de 15 anos, criado por uma mãe solteira, professora universitária e um tanto quanto controversa. Sua irmã, a rebelde da família, ao mudar para São Francisco com o namorado, deixa para William todos os seus álbuns de Rock.

A idolatria de William por bandas como Black Sabbath, Led Zeppelin, The Beach Boys, e outras, o transforma em um jornalista de rock em potencial. Ele conhece Lester Bangs (Philip Seymour Hoffman) – que aliás era um verdadeiro jornalista de rock, ao qual Cameron era amigo – que lhe oferece um trabalho na revista Cream. Seus artigos chamam a atenção da maior revista de rock do país – A Rolling Stones -. William sai em turnê com a banda Stillwater e conhece Penny Lane (Kate Hudson), a personagem mais intrigante do filme. Ela pode ser chamada de Groupie (Fãs de bandas que dormiam com os integrantes), mas ela se considera uma “ajudante da banda”.

O filme não conta apenas com atuações memoráveis, destaque para Kate Hudson e Frances McDormand, que interpreta a histérica mãe de William; mas também com cenas memoráveis. A banda cantando “Tiny Dancer” de Elton John no onibus é simplesmente nostálgica, até mesmo para quem não a conhecia; Kate Hudson derrubando uma lágrima ao ser recriminada por William devido ao seu amor por Russel (guitarrista da banda Stillwater) é inesquecível, ela conseguiu criar uma personagem tão intrigante e esférica que se tornou a capa do filme. E a banda no corredor do aeroporto após a dramática viagem tem de fundo um solo de gaita que dá vontade de ouvir por horas e se lembrar de algo que a gente não viveu.

Já vi criticas sobre o filme recriminando-o devido às drogas e “porra-louquices” que são mostradas. Eu o recrimino em parte por ter pegado tão leve. Mostrar a realidade é a forma mais pura de homenagear algo e foi isso que Quase Famosos nos proporcionou: Respirou o Rock e homenageou os anos 70.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

I love Lucy

Mudando um pouco o foco do blog, vou falar do melhor seriado de comedia de todos os tempos. I Love Lucy estreou na CBS em 1951 e ficou no ar até 1957. Teve 180 episódios (incluindo o “Perdido” especial de Natal). Contava a história de um casal de Nova York: Lucy, uma atrapalhada dona de casa que fazia de tudo para entrar no mundo do entretenimento e Ricky, um cantor cubano que trabalhava em um clube de Nova York.

A sitcom foi baseada em um programa de rádio estrelada por Lucille Ball e Richard Denning, chamado “My favorite Husband”. Richard queria interpretar Ricky na versão para TV, no entanto, Lucille queria seu marido, Desi Arnaz, como protagonista da série. Os produtores ficaram preocupados com a reação do público à respeito do casamento “inter-racial” e pelo enorme sotaque de Desi. Para ajudar a decisão dos produtores, Arnaz e Ball fizeram uma peça com a música dele e a comédia dela, que foi aclamada em várias cidades. Por fim, os produtores aceitaram a dupla para a televisão, com a condição de não referirem o nome de Ricky no título. Ficou decidido como “I Love Lucy”, pois Desi sabia que o “I” era ele.

O seriado contava ainda com Vivian Vance e William Frawley, que interpretavam o casal Ethel e Fred. As situações em que Lucy e Ethel se metiam eram sempre as mais engraçadas. Nas ultimas temporadas, Lucy e Ricky tem um filho, o “Little Ricky”, interpretado por Keith Thibodeaux.

Embora o seriado tenha terminado em 1957, o show continuou por mais tres temporadas, com treze especiais de uma hora, rodados de 1957 a 1960, no começo se chamou The Lucille Ball – Desi Arnaz Show e depois retornou com o nome de The Lucy – Desi Comedy Hour.

Ao longo dos anos, o seriado ganhou cinco premios Emmy sendo duas vezes de melhor série de comédia, duas vezes para Lucille Ball e uma vez para Vivian Vance. I Love Lucy é o seriado mais popular dos Estados Unidos, suas cenas memoráveis são ainda hoje lembradas e retratadas por diversas series e filmes. No entanto, é impossivel copiar essa obra de arte. Acredito que jamais rirei tanto quanto rio quando assisto à Lucy.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Meu Amigo Harvey (Harvey) - 1950

[Postado por Gian]
"Meu Amigo Harvey" é uma daquelas comédias típicas dos anos dourados de Hollywood, cheia de carisma e pureza, duas características que certamente não combinam com a maioria das comédias produzidas hoje em dia.

Estrelada pelo formidável James Stewart, a trama nos conta a história de Elwood P. Dowd, um homem que tem um amigo basta peculiar: um coelho gigante de 1.91 de altura chamado Harvey! Ah, um detalhe: esse amigo é puro fruto de sua imaginação.

Dowd mora com sua irmã Veta e sua sobrinha Myrtle, que passam poucas e boas por causa da imaginação fértil dele, chegando a ponto de perderem os seus contatos sociais, e o momento não poderia ser pior por conta da procura incessante de Veta por um marido ideal para sua filha. Cada vez mais elas percebem que Dowd está espantando todas as pessoas de sua casa, e tomam uma decisão drástica: internar o pobre homem.

A partir daí a história toma um rumo bastante inesperado e inevitavelmente hilariante, onde os acontecimentos chegam no limiar do absurdo, mas se tratando de uma comédia dos anos 50, não há nada mais natural. É bastante agradável ver todas as reviravoltas pela qual a trama passa.

James Stewart nos apresenta uma atuação bastante divertida, sem dúvida um dos maiores atores de todos os tempos, ele consegue com proeza nos conquistar com a sua relação com Harvey, chegamos até a acreditar que o coelho realmente existe tamanha a sinceridade em que Dowd o trata, seja nos seus diálogos ou nos seus gestos.

Apesar do tom cômico, 'Harvey' também possui um lado crítico ao mostrar o sanatório para onde Dowd é levado. É claro que tudo é lidado com um certo exagero, mas é clara a crítica em relação ao que realmente difere um 'louco' de um 'normal'. Porque Dowd seria um louco? Afinal, ele não está fazendo mal ao ninguém, ele apenas tem um amigo nada convencional. A cena em que o médico do sanatório pensa que é a sua irmã, Veta, que está louca, é bastante crítica, afinal, Dowd continua na dele, tranquilo e sorridente, enquanto sua irmã entra num estado completamente histérico por causa de Harvey.

Talvez essa crítica do filme não tenha chamado muita atenção para os expectadores daquela época, mas ainda é bastante válida para os dias de hoje. Na cena ótima e bastante crítica em que um taxista, que costuma levar os ditos loucos para o sanatório, diz à Veta que 'os loucos' entram no sanatório de um jeito (simpáticos, gentis e alegres) e depois de injenção de 'cura', saem rabugentos e reclamões, podemos perceber a preocupação que a trama teve em explorar, mesmo de um modo superficial (o que nesse caso era inevitável), as questões que lidam com a linha obscura entre a sanidade e a loucura.

Mas para não acabar viajando demais na maionese, termino aqui dizendo que é uma película bastante agradável, com atores afiados (destaque também para Josephine Hull como a histérica Veta) e uma boa direção. Quem sabe ao final do filme você não vai acabar desejando a companhia do simpático Harvey?