segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Parênteses - João Guimarães Rosa -


Além de cinema, vou abordar algumas outras artes que aprecio, dentre elas a Literatura.
Ano passado foi todo sobre Vestibular, e ao pensar que no começo do ano eu estava morrendo de preocupação em ter de ler 9 livros pra fazer a bendita prova eu rio. A melhor coisa do ano foi aprender tanto sobre história e literatura. Pois bem, fui ler "Campo Geral" de Guimarães, e claro que chorei (quem não chorou naquele livro tem um coração de pedra), muitos amigos é claro também adoraram o livro, no entanto, eu me pergunto quantos se interessaram em pegar para ler mais alguma coisa de qualquer autor que tenha gostado. Eu axo fabuloso os vestibulares incentivarem os alunos a lerem os livros, no entanto, isso devia começar desde cedo, os alunos deveriam ser encorajados a ler classicos da nossa literatura com 10 anos (eu também acredito que certos filmes também deveriam entrar no programa, mas isso é outra conversa). Enfim, Guimarães conseguiu conquistar a minha cabeça e o meu coração (por mais brega que essa frase possa parecer), a maneira única que esse mineiro tinha em descrever o sertão me emociona com cada conto novo que eu leio, cada novela, cada frase que ele escreveu.
Eu como um futuro Humanista (se Deus permitir vou ajudar muitas crianças na África e nos locais pobres desse Brasilzão) me apaixono ainda mais quando vejo que o artista se envolvia com questoes sociais e Guimarães não foi diferente, ele esteve na Alemanha Nazista e ajudou diversos Judeus a conseguirem passaporte para o Brasil (Foda né?!).
Concluindo: não é atoa que o meu livro preferido seja Grande Sertão: Veredas. As vezes eu me pegava lendo o livro em voz alta e quase derramando lágrimas com certas frases como: "Sempre, no gerais, é à pobreza, à tristeza. Uma tristeza que até alegra" ou "toda saudade é uma espécie de velhice", enfim, o livro é recheado com reflexões ingenuas mas tão profundas que chega doer.
"Um chamado João"
"João era fabulista?fabuloso?fábula?Sertão místico disparandono exílio da linguagem comum?Projetava na gravatinhaa quinta face das coisas,inenarrável narrada?Um estranho chamado Joãopara disfarçar, para farçaro que não ousamos compreender?Tinha pastos, buritis plantadosno apartamento?no peito?Vegetal ele era ou passarinhosob a robusta ossatura com pintade boi risonho?Era um teatroe todos os artistasno mesmo papel,ciranda multívoca?João era tudo?tudo escondido, florindocomo flor é flor, mesmo não semeada?Mapa com acidentesdeslizando para fora, falando?Guardava rios no bolso,cada qual com a cor de suas águas?sem misturar, sem conflitar?E de cada gota redigia nome,curva, fim,e no destinado geralseu fado era saberpara contar sem desnudaro que não deve ser desnudadoe por isso se veste de véus novos?Mágico sem apetrechos,civilmente mágico, apeladore precipites prodígios acudindoa chamado geral?Embaixador do reinoque há por trás dos reinos,dos poderes, dassupostas fórmulasde abracadabra, sésamo?Reino cercadonão de muros, chaves, códigos,mas o reino-reino?Por que João sorriase lhe perguntavamque mistério é esse?E propondo desenhos figuravamenos a resposta queoutra questão ao perguntante?Tinha parte com... (não seio nome) ou ele mesmo eraa parte de genteservindo de ponteentre o sub e o sobreque se arcabuzeiamde antes do princípio,que se entrelaçampara melhor guerra,para maior festa?Ficamos sem saber o que era Joãoe se João existiude se pegar."
Carlos Drummond de Andrade - 22/11/1967 - Versiprosa

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