terça-feira, 3 de novembro de 2009

Shortbus (2006)

"Nova York é uma cidade onde as pessoas vão para serem perdoadas"

Este é o filme que provavelmente leva ao extremo variados tipos de sentimentos. O orgasmo (La petite mort, a pequena morte para os franceses) talvez seja o único sentimento realmente físico. O sentimos primeiro e isso afeta o nosso psicológico posteriormente. Não é como a tristeza, em que sentimos as lágrimas em nossa face após uma descarga de emoções em nosso cérebro.

Shortbus é um filme extremamente subestimado, principalmente pelas cenas de sexo explícito quem contém. Elas são de fato as únicas coisas comentadas às pessoas que não o viram, e estas, por sua vez, não o verão por um burro preconceito ou baixarão da internet e verão sozinhas sem falar para ninguém. Eu o assisti em um cinema que fica exatamente em frente à minha casa, famoso por passar filmes europeus e os independentes americanos. Com cinco minutos de filme , um casal de idosos saiu da sala claramente constrangido. Não era para menos, os diferentes orgasmos sendo atingidos de forma explícita e de maneiras variadas (até mesmo um falso) deixaria qualquer um estupefato.

“Nova York é uma cidade de desconhecidos”. Eu provavelmente já ouvi essa frase em pelo o menos três filmes. Embora ela já tenha se tornado um clichê para mim, ela serve de pressuposto crítico a qualquer filme passado em Nova York que eu assisto. E é claro, não são poucos. Desde “Homem Aranha” à “Se meu apartamento falasse”, a premissa é verdadeira. Esse talvez seja o encanto dos diretores e roteiristas pela cidade das luzes. Uma cidade que tudo acontece e aconteceu. Em um ano em que se celebra o quadragésimo aniversario do episódio conhecido como Stonewall, não apenas a luta pelas causas LGBT estão a flor da pele, mas também a luta pela igualdade de todas as minorias. A idéia de um clube Underground formado após o episódio de 11 de setembro que abrigaria essa minoria, mais fragilizada do que o de costume, é no mínimo interessante.

Então vamos à história, ou melhor, às histórias: a terapeuta sexual Sophia (Sook-Yin Lee) conhece o casal Jamie (PH DeBoy) e James (Paul Dawson). Este está considerando abrir o relacionamento sexualmente e Sophia está tendo problemas com seu marido, pois nunca conseguiu ter um orgasmo. Os dois a contam do clube Shortbus, uma válvula de escapa aos nova-iorquinos depois do onze de setembro. James sofre de uma grave crise de identidade que se reflete em uma depressão constante. Ex garoto de programa, está gravando um filme com a finalidade que descobrimos apenas no final. Outra figura importante no filme é a Dominatrix Severen (Lindsay Beamish), que é paga para bater. Ela conhece Sophia no Shortbus e as duas marcam sessões de terapia, na qual uma tenta ajudar a outra: Severen a fazer Sophia finalmente gozar e Sohpia a entender por que Severen não consegue ter um relacionamento sério duradouro. Os “Jamies” encontram um rapaz muito divertido para a abertura do relacionamento. Ceth (Jay Brannan) é um ex-modelo que está a procura desesperadamente de um marido.

Vouyerismo, sadomasoquismo, lesbianismo e mais um tanto de “ismos” fazem parte do contexto do Shortbus. O filme consegue tirar grandes risadas em cenas como a do ovo vibratório, controlado por um controle remoto que Sophia dá à seu marido e, provavelmente, a cena mais comentada do filme, em que em um ménage à trois, James canta o hino dos Estados Unidos na bunda de Ceth. Além de cenas de extrema comoção, como a conversa entre o ex-prefeito de Nova York e Ceth, em que a fala transcrita acima abaixo da foto foi retirada. Além da cena em que James aparece sob a luz, após Jamie já estar perdendo a esperança de encontrá-lo (literalmente e subjetivamente falando).

É difícil classificar Shortbus. Ao ser questionado a respeito da diferença entre a pornografia e o filme, o diretor John Cameron Mitchell disse que “O propósito da pornografia é estimular. Aqui a prioridade é a vida emocional dos personagens”. E está para eu ver um filme que retratou os sentimentos dos personagens tão aguçados quanto este. Sim, através do sexo, mas também da raiva, do constrangimento, da dor, da tristeza, e não deixando o clichê de lado, do amor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário