"Meu Amigo Harvey" é uma daquelas comédias típicas dos anos dourados de Hollywood, cheia de carisma e pureza, duas características que certamente não combinam com a maioria das comédias produzidas hoje em dia.
Estrelada pelo formidável James Stewart, a trama nos conta a história de Elwood P. Dowd, um homem que tem um amigo basta peculiar: um coelho gigante de 1.91 de altura chamado Harvey! Ah, um detalhe: esse amigo é puro fruto de sua imaginação.
Dowd mora com sua irmã Veta e sua sobrinha Myrtle, que passam poucas e boas por causa da imaginação fértil dele, chegando a ponto de perderem os seus contatos sociais, e o momento não poderia ser pior por conta da procura incessante de Veta por um marido ideal para sua filha. Cada vez mais elas percebem que Dowd está espantando todas as pessoas de sua casa, e tomam uma decisão drástica: internar o pobre homem.
A partir daí a história toma um rumo bastante inesperado e inevitavelmente hilariante, onde os acontecimentos chegam no limiar do absurdo, mas se tratando de uma comédia dos anos 50, não há nada mais natural. É bastante agradável ver todas as reviravoltas pela qual a trama passa.
James Stewart nos apresenta uma atuação bastante divertida, sem dúvida um dos maiores atores de todos os tempos, ele consegue com proeza nos conquistar com a sua relação com Harvey, chegamos até a acreditar que o coelho realmente existe tamanha a sinceridade em que Dowd o trata, seja nos seus diálogos ou nos seus gestos.
Apesar do tom cômico, 'Harvey' também possui um lado crítico ao mostrar o sanatório para onde Dowd é levado. É claro que tudo é lidado com um certo exagero, mas é clara a crítica em relação ao que realmente difere um 'louco' de um 'normal'. Porque Dowd seria um louco? Afinal, ele não está fazendo mal ao ninguém, ele apenas tem um amigo nada convencional. A cena em que o médico do sanatório pensa que é a sua irmã, Veta, que está louca, é bastante crítica, afinal, Dowd continua na dele, tranquilo e sorridente, enquanto sua irmã entra num estado completamente histérico por causa de Harvey.
Talvez essa crítica do filme não tenha chamado muita atenção para os expectadores daquela época, mas ainda é bastante válida para os dias de hoje. Na cena ótima e bastante crítica em que um taxista, que costuma levar os ditos loucos para o sanatório, diz à Veta que 'os loucos' entram no sanatório de um jeito (simpáticos, gentis e alegres) e depois de injenção de 'cura', saem rabugentos e reclamões, podemos perceber a preocupação que a trama teve em explorar, mesmo de um modo superficial (o que nesse caso era inevitável), as questões que lidam com a linha obscura entre a sanidade e a loucura.
Mas para não acabar viajando demais na maionese, termino aqui dizendo que é uma película bastante agradável, com atores afiados (destaque também para Josephine Hull como a histérica Veta) e uma boa direção. Quem sabe ao final do filme você não vai acabar desejando a companhia do simpático Harvey?
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