segunda-feira, 17 de agosto de 2009

O Lutador (The Wrestler) - 2008

[Postado por Gian]A melhor frase que pode definir essa obra de Darren Aronofsky seria: Um filme de grandes atuações! Nesse aspecto, "O Lutador" quase se equipara à filmes como "Quem tem medo de Virgínia Woolf", "Uma Rua Chamada Pecado", "Gata em teto de Zinco Quente" e o mais recente, "Dúvida". Todas essas películas tem em comum a maneira de como conseguem, acima de tudo, conquistar o espectador pelas atuações brilhantes. O filme em questão não possui um roteiro tão original quanto os filmes citados acima, mas ele é triufante ao convencer quem o assiste de que o mais importa é como os atores conduzem essa história, e essa condunção é espetacular!

Randy "Carneiro" Robinson (Mickey Rourke) fez muito sucesso nos anos 80 como um lutador de luta-livre, mas por causa de sua vida sem limites, vinte anos se passam e nós é mostrado o preço pago por Randy por essa vida 'porra-louca': agora ele vive num trailer, luta apenas nos finais-de-semana em pequenos clubes e trabalha num supermercado para complementar sua renda.

Apesar do filme ser divinamente dominado por três atores, é Mickey Rourke que chega ao sublime. Sua vida pessoal se parece com a de Randy, como o lutador, Rourke também teve uma carreira que prometia levá-lo ao patamar das maiores estrelas, entrentanto o ator acabou sendo deixado de escanteio (também por causa de uma vida sem limites) e passou a estrelar, a partir da década de 90, apenas filmes B.

Muitos acham que Rourke só foi elogiado pela sua atuação porque a vida do lutador no filme se confude com a sua própria, afinal ele também tinha se dedicado ao boxe. Mas não é nada disso, sua perfomance é tão brilhante que é impossível pensar que tudo não passou de "um ator derrotado fazendo sua própria vida". Rourke apenas fez as escolhas erradas e com isso acabou por criar nos grandes produtores e diretores uma negligência em relação a ele, passando a impressão de apenas mais um que teve uma carreira passageira, e essa situação, é claro, acontece com vários artistas talentosos.

Analisando o filme pelo filme (que é a melhor maneira de se analisar qualquer forma de arte), temos um ator que nos mostra a verdadeira arte de atuar. Rourke faz de Randy um homem apaixonado pela única coisa que sabe fazer, apesar dos seus dias de glória já terem ido embora há muito tempo. A película é basicamente sobre como uma pessoa pode (ou não) se ajustar na sociedade depois de ter vivenciado uma vida de sucesso. Randy ainda é respeitado nos clubes onde luta e uma vez ou outra é reconhecido na rua, mas isso não basta, o que ele ama é estar rodeado pela sua 'família' (os espectadores das lutas, como ele mesmo diz), entretanto essa família apenas pode ser encontrada em um número bastante reduzido aos finais-de-semana.

Mas a película não gira apenas em torno dele, Marisa Tomei (outra atriz pouco aproveitada) também dá um show ao dar vida a Cassidy, uma stripper que é amiga e affair de Randy, apesar do corpo esbelto, ela já é considerada por muitos 'velha' para os padrões dos clubes de strip-tease, mas ainda assim Cassidy tenta seguir sua vida dançando, apesar de saber que os seus dias de 'glória' já acabaram. Ou seja, temos aqui duas pessoas tentando de alguma maneira continuar simplesmente a serem o que são, tentando fazer com que o tempo não tirem deles seus únicos talentos.
Devido ao rumo que sua vida tomou, Randy possui outro grande problema, que é o de tentar reconquistar a sua filha, ao contrário de Cassidy que apesar de tudo possui seu filho ao seu lado, o lutador procura sua filha (Evan Rachel Wood) com a esperança de uma reconciliação, mas apesar de saber o que precisa para poder conquistá-la, ele falha, e numa comovente cena entre os dois, Randy fala humildemente que sabe que errou, e sabe que continua a errar, ele apenas não consegue deixar de ser o que é, uma sinceridade comovente.
E não podemos esquecer de falar um pouco de Wood, com certeza ela é uma atriz com uma brilhante carreira pela frente, ela mostrou uma ótima perfomance em 'Dúvida' e agora nesse filme ela reforça seu talento, mesmo aparecendo pouco.
Diferente das técnicas mais sofisticadas usadas em "Réquiem para um Sonho" e "Pi", Aronofsk dirige a obra de uma forma quase documental, com a câmera na mão sempre mostrando as costas de Randy, como se ele sempre estivesse pronto a entrar num ringue. A cena que mostra seu primeiro dia como balconista é comovente ao mostrar as costas do lutador e os gritos dos espectadores, nessa cena temos a certeza que o lugar de Randy não é ali, só existe um lugar apropriado para ele, o ringue. As cenas de lutas, apesar de serem de certa forma coreografadas, são magníficas, Rourke consegue passar com tanta verdade a paixão de Randy pela luta-livre, que em nenhum momento sentimos nojo ou asco do esporte praticado (e olha que eu detesto lutas).

Por fim, não se deixe enganar pensando que a obra é apenas mais uma sobre 'luta de boxe', um derivado de Rocky ou Menina de Ouro, ele é muito mais que isso, é uma obra pura e simplesmente sobre um ser humano, que como um verdadeiro exemplar dessa espécie, fez escolhas erradas, se é que pode ser chamado de 'errado' alguém que não consegue deixar de ser o que é.

Um comentário:

  1. Veremos se Rourke consegue interpretar, futuramente, outro personagem senão ele mesmo.

    Assim teremos certeza de que ele merece aplausos.

    CHarles Santos

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